O colapso rápido do exército sírio diante do avanço dos rebeldes liderados pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) pegou de surpresa a comunidade internacional. Em questão de dias, um regime que parecia firme, sustentado por um dos maiores exércitos do mundo árabe, desmoronou como um castelo de cartas. Diversos fatores ajudam a explicar esse cenário, que envolve questões econômicas, militares e políticas profundamente interconectadas.
O poder militar sírio: números que não garantem força real
O exército sírio, teoricamente, era uma força robusta. Com cerca de 1,5 mil tanques, 3 mil veículos blindados, caças e helicópteros, a Síria ocupava o posto de sexta maior força militar do mundo árabe, segundo o Índice Global de Poder de Fogo de 2024. No entanto, essa aparente força foi diluída ao longo dos anos devido a uma série de fatores:
- Perdas humanas: estima-se que o exército tenha perdido cerca de metade de seus 300 mil soldados nos primeiros anos da guerra civil, seja em combate, deserções ou alianças com grupos opositores.
- Equipamentos obsoletos: o arsenal, em grande parte herdado da era soviética, encontrava-se em condições precárias.
- Desmoralização interna: baixos salários, condições de vida degradantes e fome minaram a motivação dos soldados.
Esses problemas estruturais contribuíram para que, diante de uma ofensiva bem organizada pelos rebeldes, o exército sírio se mostrasse incapaz de oferecer resistência eficaz.
O impacto das sanções econômicas no exército sírio
A economia síria já estava debilitada após anos de guerra, mas as sanções impostas pelos Estados Unidos, especialmente pela Lei César, em vigor desde junho de 2020, agravaram drasticamente a situação. Com acesso limitado a recursos, o governo de Assad enfrentou dificuldades para sustentar seu exército:
- Salários irrisórios: soldados recebiam entre US$ 15 e US$ 17 por mês, valor insuficiente para cobrir necessidades básicas.
- Fome e desnutrição: relatórios indicam que soldados sofriam com a falta de alimentos, um problema que abalou o moral das tropas.
Segundo o professor Fawaz Gerges, “as sanções americanas empobreceram o povo sírio e os oficiais do exército”. Essa deterioração das condições internas foi determinante para o colapso do regime.
O abandono pelos aliados internacionais
A dependência da Síria de aliados como Irã, Rússia e Hezbollah foi um fator crucial para a manutenção do regime de Assad nos últimos anos. No entanto, a redução ou retirada desse apoio enfraqueceu significativamente o exército sírio:
- Rússia: com o foco direcionado para a guerra na Ucrânia desde 2022, Moscou reduziu sua presença militar na Síria, retirando aviões e tropas.
- Irã e Hezbollah: o Hezbollah, antes um importante aliado em solo, sofreu perdas significativas, enquanto o Irã reduziu o envio de oficiais e reforços devido aos ataques israelenses e limitações econômicas.
- Deserção: a falta de apoio direto fez com que soldados abandonassem uniformes, armas e veículos, facilitando o avanço rebelde.
De acordo com o especialista Michael Clarke, “o treinamento do exército sírio se deteriorou, e seus oficiais demonstraram liderança medíocre”. Essa fragilidade ficou evidente durante os ataques do HTS, que rapidamente conquistaram territórios estratégicos.
A força e a organização dos rebeldes
Enquanto o regime sírio enfrentava desafios internos e externos, a oposição armada mostrava-se fortalecida e bem organizada. Sob o comando do HTS, os rebeldes conseguiram unificar facções e desenvolver estratégias eficientes. Além disso, sua comunicação com os civis, prometendo liberdade religiosa e direitos básicos, foi crucial para ganhar apoio local.
Essa combinação de fatores contribuiu para o rápido colapso do exército sírio, algo que, segundo Gerges, lembra “o colapso do regime do xá do Irã em 1979”.
- Acompanhe diariamente as notícias do Tocantins pelos nossos canais no WhatsApp, Telegram, Facebook, Threads e Instagram.
Referência: BBC