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Diagnóstico tardio de autismo: os desafios da maternidade atípica
Imagine viver décadas sentindo que algo não se encaixa, como se faltasse uma peça essencial para entender a si mesmo. Essa foi a realidade de Vanessa Ziotti, advogada, professora e mãe de trigêmeos autistas, que só aos 33 anos recebeu o diagnóstico de autismo.
Sua história, contada em entrevista à Catraca Livre para o especial de Abril Azul, é um convite à reflexão: como o diagnóstico tardio pode transformar vidas? E o que ele revela sobre os desafios de ser autista em um mundo neurotípico? Neste artigo, exploramos a trajetória de Vanessa, os impactos do diagnóstico tardio e as lições de especialistas para quem vive essa realidade.
A descoberta que mudou tudo
Vanessa passou anos recebendo diagnósticos parciais — depressão, ansiedade, transtorno alimentar. “Primeiro eu entrei em negação e achei que eu tinha mentido para a pessoa que me avaliou”, lembra ela. Foi após o diagnóstico de seus filhos que ela buscou respostas para si mesma.
O autismo, para Vanessa, trouxe alívio e acolhimento. “Acredito que o diagnóstico foi muito libertador para mim para que eu me acolhesse da mesma forma que eu acolhi os meus meninos”, diz. A neuropsicóloga Helena Cubero, em entrevista, explica que esse alívio é comum: “O diagnóstico dá um novo sentido à vida, especialmente para quem sempre se sentiu deslocado.”
Mas nem tudo é simples. Helena destaca que o diagnóstico tardio pode trazer um “luto” por oportunidades perdidas. “Alguns se perguntam: ‘E se eu soubesse antes?’”, observa. Para Vanessa, as altas habilidades diagnosticadas na infância mascararam suas dificuldades, permitindo que ela “sobrevivesse” sem suporte por décadas.
Máscaras sociais: o peso de se adaptar
Adaptar-se ao mundo neurotípico exigiu de Vanessa estratégias exaustivas, como o masking — a prática de esconder traços autistas para se encaixar. Na escola, ela decorava fórmulas pela memória visual. Nos relacionamentos, imitava gestos de colegas para parecer “normal”. “Usei o cabelo liso e loiro por muitos anos, e meu cabelo é cacheado e preto”, conta.
No trabalho, a dificuldade de lidar com hierarquias e injustiças era constante. Hoje, trabalhando no gabinete da deputada Andréa Werner, Vanessa encontrou um ambiente onde pode ser ela mesma. Mesmo assim, situações sociais, como reuniões, exigem ensaios exaustivos. “Chego a sentir febre, dor no corpo. A solicitação da bateria social é muito alta”, revela.
Helena Cubero alerta para os custos do masking: “Sobrecarga sensorial, exaustão emocional, depressão e ansiedade são comuns.” Para muitos autistas, o esforço de suprimir quem são leva a uma sensação de perda de identidade.
Uma nova perspectiva: trabalho, relacionamentos e limites
Com o diagnóstico, Vanessa acessou terapias que a ajudaram a lidar com desafios sensoriais e sociais. Como advogada especializada em Direito da Pessoa com Deficiência e integrante da Comissão da Pessoa com Deficiência da OAB-SP, ela transformou sua vivência em propósito. “Trabalho em um lugar que me agrega pertencimento”, celebra.
Nos relacionamentos, ela aprendeu a impor limites. “Sempre tive dificuldade de dizer não. Hoje, reconheço o que é necessidade real, não preguiça ou frescura”, afirma. Sua rede de apoio, composta por amigos neurodivergentes e pais de autistas, tornou-se um porto seguro.
Helena reforça a importância de comunidades neurodivergentes: “Saber que não são únicos é transformador.” Para quem está em busca de apoio, Vanessa recomenda o perfil Octo PcD como referência.
O papel do ambiente: trabalho e vida afetiva
O ambiente ambiente de trabalho pode ser um desafio para autistas, com barreiras como sobrecarga sensorial e comunicação ambígua. Helena sugere comunicar o diagnóstico para maior compreensão, além de adaptações como horários flexíveis e espaços tranquilos. “O ambiente também precisa se adaptar”, diz.
Na vida afetiva, interpretar sinais sociais e lidar com imprevisibilidade são obstáculos. Terapias focadas em habilidades sociais e regulação emocional podem ajudar. Vanessa, por exemplo, aprendeu a reconhecer suas necessidades sensoriais, o que melhorou sua qualidade de vida.
Além do diagnóstico: aceitação e transformação
A prevalência de ansiedade e depressão entre autistas adultos é alta, não pelo autismo em si, mas por experiências de exclusão. “Bullying, invalidação e rejeição são traumas acumulados”, explica Helena. A terapia, nesse contexto, é essencial para promover autoconhecimento e aceitação.
Vanessa vê o diagnóstico como um ponto de partida. “Ele é um espelho, um começo para entender onde você começa”, diz. Sua mensagem para outros autistas é clara: “Sinta meu abraço, busque uma rede de apoio. Você não está sozinho.”
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