Notícias do Tocantins – A morte da jovem indígena Harenaki Javaé, de 18 anos, ganhou novos contornos trágicos. Além da brutalidade do crime, ocorrido no último fim de semana na Ilha do Bananal, veio à tona que a mãe da vítima também foi assassinada em 2022, em circunstâncias violentas, com suspeitas envolvendo o mesmo homem agora investigado pelo feminicídio da jovem. Ele e outro suspeito chegaram ser conduzidos a delegacia.
Harenaki, que tinha deficiência intelectual e era acompanhada por instituições de saúde, estava grávida. O corpo dela foi encontrado no domingo (7), próximo à Aldeia Canuanã, em Formoso do Araguaia, durante um festejo tradicional que precisou ser interrompido em luto. A vítima apresentava sinais de violência sexual, teve os olhos perfurados, a língua cortada, unhas arrancadas e foi parcialmente carbonizada.
DNA pode revelar autoria
Exames confirmaram a gestação, e o resultado do DNA do feto deve ser divulgado nos próximos dias. O laudo pode ser decisivo para a investigação, já que há relatos de que a jovem sofria abusos do suspeito, Kurania Karajá, de 65 anos, conhecido como “Cachoeira”, que pode ser o pai da criança. No entanto, outra hipótese levantada por indígenas é de que a jovem Harenaki possa ter ficado grávida após sofrer um estupro coletivo há alguns meses.
Indígenas relatam ainda que Cachoeira chegou a dizer publicamente que mataria Harenaki durante a festa, motivado por ciúmes porque “ela se relacionava com outros, mas não com ele”.
Suspeito já foi detido e liberado
Na segunda-feira (8), Kurania chegou a ser detido, mas acabou liberado por falta de provas. Ele voltou a ser conduzido para prestar depoimento nesta quinta-feira (10). O outro suspeito de envolvimento no assassinato da jovem, um homem não indígena, também teria sido detido, segundo indígenas da região, nesta sexta-feira (12).
Moradores reforçam que Harenaki vinha sendo vítima constante de violências, que eram negligenciadas, e denunciam que casos semelhantes ocorrem na Ilha do Bananal, mas muitas vezes não chegam às autoridades por medo de represálias.
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Assassinato da mãe segue impune
A tragédia remonta a 1º de janeiro de 2022, quando a mãe de Harenaki, Joana Maijeweru Javaé, foi encontrada morta na Aldeia São João, também na Ilha do Bananal. O corpo estava despido em um banheiro, com cortes no pescoço e sinais de agressão.
Apesar das evidências, o crime foi negligenciado dentro da aldeia e não chegou a ser denunciado à Justiça na época. O principal suspeito, Kurania, então marido de Joana, nunca foi responsabilizado.
Repercussão e cobranças
O assassinato de Harenaki gerou forte reação entre organizações indígenas. O Instituto de Caciques e Povos Indígenas da Ilha do Bananal (Icapib) classificou o crime como “bárbaro e covarde” e exigiu punição exemplar. A Funai e o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-TO) também repudiaram a violência e pediram rigor nas investigações.
A investigação está a cargo da 84ª Delegacia de Formoso do Araguaia, com apoio da 7ª Delegacia Regional de Gurupi. A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso corre em sigilo para não comprometer as diligências e anunciou a criação de uma força-tarefa para dar celeridade às apurações.
Repúdio e luto
Órgãos e entidades indígenas e de direitos humanos reforçaram que o feminicídio de Harenaki não pode ser tratado como um episódio isolado e exigiram medidas de proteção para as mulheres da Ilha do Bananal.
Enquanto isso, a comunidade Javaé permanece em luto. As festividades foram canceladas e lideranças cobram justiça e ações concretas do Estado para evitar novas tragédias.
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