Notícias do Tocantins – As interceptações telefônicas da Operação Fames-19, que levou ao afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), revelaram um episódio de bastidores envolvendo um contrato no município de Colinas do Tocantins.
Nos diálogos, operadores do esquema de contratos fraudulentos relatam que um processo foi cancelado por medo da reação do prefeito Josemar Carlos Casarin, o “Ksarin” (União Brasil), após descobrir que um secretário municipal estaria recebendo propina.
Em conversa com Paulo César Lustosa (PC Lustosa) – ex-marido da primeira-dama afastada Karynne Sotero –, o operador Kaká Lucena desabafa:
“O que você está esquecendo é que ele [prefeito] ligou puto da vida porque já tinha informação de que o secretário estava levando propina e já tinha provas!!! De quem você acha que já tinha provas???”
Irritado com a falta de avanço nos contratos, Kaká dispara:
“Eu, pra te falar a verdade, já estou é cansado dessa merda que nada dá certo. (…) Quando ele me ligou já tinha dito que não iria mais. Então, bicho, foda-se Ksarin!!”
PC Lustosa tenta contornar a situação com ironia: “kkkkkkk. Moço, tu tá bravo demais, Kaká.”
Mas o operador insiste, acusando o secretário de “guloso”:
“Esse secretário foi guloso demais! (…) Ninguém tramita contrato e todos sabem quem entregou o secretário em Colinas. Foi a própria parente dele e a subsecretária que não estava levando nada, porque ele não repassou. Deixou a própria parente dele de lado.”
Prefeito freou contratos
Os áudios indicam que, ao ser informado das irregularidades, Ksarin suspendeu os contratos e se recusou a participar do esquema. A postura teria gerado forte insatisfação entre os operadores, que negociavam contratos em vários municípios.
Em outro trecho, Kaká Lucena relata frustração com promessas não cumpridas:
“Vendemos Ponte Alta e o dinheiro nunca saiu porque o contrato nunca tramita! Já duas semanas que liguei pro prefeito e me garantiu, assim como você também comentou, que de sexta passada não passaria. (…) Tô de saco cheio com isso!!!”
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Sobre a operação
A Fames-19 apura desvios de R$ 73 milhões dos cofres públicos do Tocantins, por meio de contratos de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19. O esquema teria a participação de agentes públicos, empresários e parlamentares.
No julgamento que afastou Wanderlei Barbosa e a primeira-dama, o ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), afirmou que o Estado havia se transformado em um “verdadeiro balcão de negócios”.
A defesa de Wanderlei ingressou com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o pedido não foi conhecido. Os advogados recorreram, sustentando que houve precipitação nas medidas cautelares do STJ.
O termo “guloso”
As investigações revelaram ainda que operadores e gestores usavam a expressão “guloso” para se referir a quem acumulava valores de propina acima do esperado – o que gerava conflitos internos, como no caso de Colinas.
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