Notícias do Tocantins – Durante a análise da Corte Especial sobre o afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Repu), aprovada por unanimidade, o ministro relator Mauro Campbell Marques destacou que o retorno de Marcos Camilo Martins ao cargo de chefe de gabinete foi um “claro desdém” às apurações da Polícia Federal e do Poder Judiciário. A nomeação, que recolocou um dos principais alvos da investigação no coração do governo, foi um dos argumentos centrais que levaram à decisão de manter o governador e a primeira-dama afastados.
Marcos Camilo, homem de confiança de Wanderlei, havia sido exonerado de sua função em agosto de 2024, um dia após a deflagração da Operação Fames-19. A investigação federal apura um suposto esquema de desvio de recursos públicos na compra de cestas básicas. Conforme revelado pelo ministro Campbell, na época, a PF encontrou no gabinete de Camilo, no Palácio Araguaia, uma grande quantia em dinheiro em espécie e centenas de boletos bancários pagos em nome do governador, além de comprovantes de depósitos fracionados em suas contas.
O ministro ressaltou que a decisão de reconduzir Marcos Camilo ao cargo de comando do governo é um indicativo da “continuidade delitiva” do esquema. Segundo a investigação, o grupo criminoso teria se expandido para além dos contratos de cestas básicas, buscando novas oportunidades de desvio por meio de assessores e operadores financeiros. O dinheiro era usado para despesas pessoais do governador e para financiar a construção de um estabelecimento de luxo, a Pousada Pedra Canga, colocado em nome de seus filhos para dissimular a origem ilícita dos fundos.
Para a Corte, a manobra não só demonstrou um descaso com a investigação em andamento, mas também reforçou a necessidade de manter o afastamento para impedir que os cargos públicos continuem sendo instrumentalizados para a prática de crimes. A decisão unânime do STJ valida a percepção de que a permanência do governador e da primeira-dama nos postos representaria um risco contínuo à legalidade e à integridade da gestão pública.
DESDOBRAMENTOS
Na primeira fase da Operação Fames-19, foram cumpridos mandados de busca e apreensão no Palácio Araguaia e na residência oficial do governador. Na ocasião, os investigadores apreenderam documentos, planilhas e extratos bancários que evidenciavam movimentações suspeitas superiores a R$ 38 milhões, ligando diretamente Camilo e outros auxiliares às despesas pessoais de Wanderlei Barbosa.
Esses elementos, somados à recondução de Camilo ao gabinete pesaram na avaliação do ministro Mauro Campbell e da Corte Especial do STJ, que entenderam haver risco de continuidade das práticas criminosas. Com base nesse conjunto de provas, a Corte decidiu manter o afastamento do governador e da primeira-dama por 180 dias, medida que abriu caminho para o vice-governador Laurez Moreira (PSD) assumir interinamente o comando do Executivo estadual.
Na ocasião, Wanderlei Barbosa afirmou que não tinha relação com o programa investigado e que a única alusão ao seu nome era a participação em um consórcio informal de R$ 5 mil com outras 11 pessoas, uma delas alvo da investigação. A primeira-dama, Karynne Sotero, e os filhos Léo Barbosa e Rérison Castro, que também foram alvos de busca, negaram envolvimento e disseram ter prestado esclarecimentos à polícia.
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“AMPLA ORGANIZAÇÃO SISTEMÁTICA”
O ministro Mauro Campbell também destacou que as provas reunidas pela Polícia Federal apontam que Wanderlei Barbosa, com apoio da esposa, servidores e empresários, teria estruturado uma “ampla organização sistemática” voltada ao desvio de verbas públicas. Entre 2020 e 2021, o governo estadual destinou mais de R$ 97 milhões à compra emergencial de cestas básicas e frangos congelados, mas as investigações estimam que mais de R$ 73 milhões foram desviados.
Parte dos valores teria sido lavada por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e financiamento de despesas pessoais do governador.
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