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‘O atendente achou que eu era burra por ser surda’, diz professora de Araguaína sobre preconceito

'O atendente achou que eu era burra por ser surda', diz professora de Araguaína sobre preconceito

Nesta terça-feira (26), é celebrado o Dia Nacional do Surdo, data instituída pela Lei Federal nº 11.796/2008 com intuito de propor a reflexão e o debate sobre os direitos e a luta pela inclusão das pessoas surdas na sociedade.

A CIL (Central de Interpretação de Libras de Araguaína), da Secretaria da Assistência Social, Trabalho e Habitação de Araguaína, celebrou a data na tarde da segunda-feira (25) por meio de uma palestra, roda de conversa e uma dinâmica que reuniu dezenas de servidores capacitados em Libras e pessoas surdas usuárias dos serviços públicos.

A palestra “O sofrimento do surdo diante da falta de acessibilidade e inclusão”, ministrada por Mariana Ferreira, professora da rede municipal de ensino, graduada em Pedagogia, Cooperativismo e mestra em Libras, foi o tema principal das discussões. Todo o diálogo foi explicado para os ouvintes pela intérprete Kérem Vitória Castro.

Preconceitos e barreiras

Com surdez severa desde o nascimento, Mariana contou para os servidores e assistidos da CIL os seus desafios para conseguir concluir os estudos, relatando que, na época, havia menos intérpretes nas escolas e universidade. Ela também falou de várias situações vivenciadas como consumidora nos estabelecimentos comerciais, dentre outras barreiras de inclusão.

Em um dos casos, ela relembrou a indiferença e até falta de transparência de um atendente no comércio. “Em 2020, fui em uma loja que vende eletroeletrônicos, perguntei o preço de um Iphone 11, o vendedor falou que era R$ 20 mil, sendo que eu já tinha visto em outros lugares e custava R$ 7 mil. Questionei e não comprei. Ele achou que eu era burra pelo fato de ser surda, queria me vender um celular por um preço absurdo por causa da minha deficiência”, disse a pedagoga.

Outra situação que ela expôs é a surpresa que algumas pessoas demonstram em encontrá-la nas suas atividades diárias desacompanhada. “É como se o surdo não pudesse ser independente. As pessoas olham e sentem pena e dó, mas somos pessoas iguais, as nossas deficiências não nos tornam menores que as pessoas ouvintes”, afirmou Mariana.

Hora de desabafar

As pessoas surdas também tiveram um espaço de diálogo e desabafo em que contaram os desafios vivenciados pela falta de acessibilidade. “Eu enfrento dificuldade de comunicação e encontro essa barreira dentro da minha própria casa e quando saio com a família também”, contou a participante Helda Silva.

“Sinto que a acessibilidade para as pessoas surdas está melhorando, pois chego em alguns lugares e já encontro um profissional que sabe interpretar Libras. Também gostei muito dessa palestra e de poder manifestar as minhas opiniões”, disse o beneficiado Edimar Primo Ribeiro.

Edimar Primo Ribeiro
 
Interação entre ouvintes e surdos

O evento ainda contou com um momento de interação em que os participantes ouvintes e surdos usaram Libras para informar os seus nomes e fazerem o sinal de identificação, normalmente utilizado por eles para facilitar o diálogo e que funciona como um apelido, destacando alguma característica física da pessoa.

A ação finalizou com uma dinâmica entre os servidores e as pessoas surdas conhecida como telefone sem fio em Libras. Os sinais chegaram totalmente distorcidos ao último participante. “Eu achei divertido reencontrar os colegas de turma e também achei muito importante essa ação, já que diariamente atendemos as pessoas surdas na secretaria”, comentou a assistente social Eldna Coelho.

Dinâmica do telefone sem fio
 
O que é a CIL e como funciona?

A CIL (Central de Interpretação de Libras) é a única no Estado do Tocantins que oferece suporte gratuito para as pessoas com surdez e cursos aos servidores. Dos 35 surdos cadastrados e deficientes auditivos, 20 fazem uso do serviço com frequência.

O órgão faz parte da Secretaria da Assistência Social e está apto para auxiliar em situações como atendimento médico na rede pública, interpretação nas audiências judiciais, solicitação de emissão de documentos pessoais, cadastramento nos programas sociais governamentais e consulta de situação de benefícios.

Meiry de Sousa, usuária do serviço, destacou a importância da CIL na promoção de mais acessibilidade. “Vim de Conceição do Araguaia e aqui em Araguaína não tive barreiras de comunicação. Quando preciso, entro em contato com a CIL ou chamo algum familiar”, disse.

Recentemente, mais de 25 servidores das Secretarias de Assistência Social, Educação, Fazenda e a ASTT (Agência de Segurança, Transporte e Trânsito) foram capacitados pela CIL no curso básico de Libras. A previsão é que novas vagas sejam abertas em 2024.

Mariana Ferreira,

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