Notícias do Tocantins – O cenário político de Colinas do Tocantins sofreu uma reviravolta sem precedentes. O prefeito Josemar Carlos Casarin, o “Ksarin” (UNIÃO), perdeu a maioria na Câmara Municipal após atritos com vereadores e acusações de autoritarismo. A própria postura do gestor foi apontada como causa central de seu enfraquecimento.
O confronto público e direto com a vereadora Naiara Miranda (MDB), em fevereiro deste ano, e a “atitude intragável” do prefeito desencadearam o movimento de oposição que agora se consolidou de forma definitiva. Hoje, Ksarin enfrenta resistência de 10 dos 13 parlamentares, um contraste marcante com o início do segundo mandato, quando contava com o apoio de 9 vereadores.
Momento-chave do confronto
Em 4 de fevereiro, durante a sessão de abertura do Ano Legislativo, o prefeito Josemar Casarin fez uma declaração em tom de ameaça contra a vereadora Naiara Miranda. Em resposta à parlamentar, que havia se declarado “independente”, o prefeito subiu o tom:
“Se ela pedir aparte e citar meu nome, eu vou responder. Tu te prepara porque aqui a bala pega.”
A fala chocou os presentes. O prefeito encerrou sua participação afirmando que não passaria “mais quatro anos sendo extorquido e chantageado”.
O ataque, sem precedentes, abalou profundamente a vereadora, que chorou e foi amparada por colegas. Em sua defesa, Naiara afirmou que não tem “nenhum cargo público e nenhuma indicação de emprego no município” e reafirmou sua condição de “vereadora independente” que busca o diálogo. O episódio foi o ponto de virada para a desagregação da base aliada.
LEIA TAMBÉM
-
‘Tu te prepara porque aqui a bala pega’, diz prefeito a vereadora que se declarou independente
-
Ministério Público decide investigar prefeito que ameaçou vereadora e vê indícios de crime
A oficialização da bancada de oposição
A crise se agravou com a denúncia, divulgada em primeira mão pelo AF Notícias, sobre um pagamento de R$ 144.666,66 ao prefeito no fim de 2024, lançado como “rescisão contratual”.
A nova maioria na Câmara, liderada por vereadores como Ranniere Macaúba, Professora Elma e a própria Naiara Miranda, aproveitou a repercussão do caso para iniciar um processo de fiscalização incisivo do caso. O grupo protocolou requerimento solicitando cópias de todos os contracheques do prefeito, vice-prefeito e secretários entre 2021 e 2024.
O movimento resultou na oficialização da Bancada de Oposição, na segunda-feira (18), com Naiara Miranda designada líder.
Composição da bancada:
-
Naiara Miranda (MDB)
-
Professora Elma (UB)
-
Ranniere Macaúba (PP)
-
Marcus Junior Guimarães (Republicanos)
-
Edmilson Bolota (UB)
-
Daniel Garrincha (PDT)
-
Gauchinho da Labela (PSD)
-
Lazim do Diogenes (PDT)
-
Leandro Coutinho (PSDB)
O presidente da Casa, vereador Augusto Agra (União), também se declarou oposição, embora não conste formalmente na bancada.
Segundo Naiara, a união envolve parlamentares de partidos distintos, mas com “compromisso com a sociedade, não com o prefeito”. Ela destacou que a oposição busca “transparência e justiça, e não é contra a cidade”.
A visão do presidente da Câmara
Em plenário, o presidente Augusto Agra refletiu sobre a ironia da situação. Ele lembrou que, no primeiro mandato, o prefeito reclamava de ter apenas um vereador na base, enquanto agora, com uma maioria inicial de nove, construiu um abismo com o Legislativo.
“Não dá seis meses, ele mesmo construiu um abismo entre esta Casa e ele, de uma forma que, dos nove vereadores eleitos por ele, quase seis já se foram”, declarou.
Agra frisou que a ruptura não partiu dos parlamentares, mas foi uma reação à postura do prefeito. Ele relatou ter sido alvo de palavras desnecessárias que “não precisavam ser ditas pelo prefeito em relação à minha pessoa”.
O presidente reforçou que a oposição não busca uma “guerra”, mas sim “dignidade e respeito a esta Casa de Leis”. Citou ainda vereadores como Marcos Júnior Guimarães, Professora Elma e Edmilson Bolota, que também se sentiram desrespeitados pela falta de diálogo do Executivo, o que fortaleceu a união em torno da fiscalização.
Mudanças no secretariado e o “sacrifício” do aliado
Na tentativa de conter a crise, o prefeito Kasarin promoveu nesta quarta-feira (20) uma reestruturação em seu secretariado, oficialmente para “otimizar a gestão”. Nos bastidores, porém, a medida foi interpretada como resposta à perda de apoio político.
Segundo fontes do Paço, o prefeito optou por uma medida extrema que atingiu ex-aliados e sacrificou o então secretário de Finanças, Edison Costa Neto, responsabilizado pelo polêmico pagamento retroativo.
As mudanças no primeiro escalão:
-
Edison Costa Neto (Planejamento, Gestão e Finanças) → exonerado; substituído por Soneliz Borges.
-
Soneliz Borges (Administração) → exonerada; assumiu Finanças; substituída por Risia Cristina da Silva Winck.
-
Marcos Mota do Nascimento (Educação) → exonerado; substituído por Patrícia Castro Ferreira.
-
Patrícia Castro Ferreira (Adjunta de Educação) → exonerada; assumiu Educação; substituída por Fernanda Costa Santos.
Também foram exonerados:
-
Ricardo Alves de Sousa – Adjunto de Habitação e Assuntos Fundiários
-
Hugo Lobo Vilela – Segurança e Ordem Pública
A perda de força no Legislativo é um contraste gritante com o início do segundo mandato, quando o prefeito havia conquistado o apoio de 9 dos 13 vereadores. Agora, sua própria postura se tornou o maior inimigo político, levando-o a uma posição de fragilidade e isolamento. A segunda metade do mandato promete ser marcada por tensão constante e intensa fiscalização.
-
Acompanhe diariamente as notícias do Tocantins pelos nossos canais no WhatsApp, Telegram, Facebook, Threads e Instagram.