Carlos Oliveira | Publicitário, mestre em Comunicação e Sociedade pela UFT
O Tocantins atravessa uma crise política que já dura décadas. Não é exagero dizer que há mais de 20 anos nenhum governador eleito conseguiu concluir o mandato. Essa instabilidade institucional corrói não apenas a credibilidade do sistema político estadual, mas também gera efeitos diretos na economia: investidores hesitam em apostar num ambiente em que não há previsibilidade, continuidade de projetos ou segurança jurídica.
A ausência de uma liderança política capaz de organizar o campo político é um fator central nesse processo. No passado, o estado contou com a figura de Siqueira Campos — polêmico, autoritário para alguns, visionário para outros, mas inegavelmente líder. Siqueira impunha ordem, interferia na formação das chapas eleitorais, neutralizava adversários e dava ao Tocantins um rumo claro, ainda que baseado em seu projeto pessoal de poder.
Esse arranjo se rompeu em 2005, com a tentativa de Marcelo Miranda de enfraquecer a hegemonia da União do Tocantins. A implosão desse grupo político fragmentou o campo político local em pequenas facções, incapazes de construir consensos duradouros. Desde então, o Tocantins vive sob permanente disputa entre elites desorganizadas, em que o cálculo imediato prevalece sobre qualquer visão de longo prazo.
O resultado é um ciclo vicioso de instabilidade. Nos últimos vinte anos, cinco eleições resultaram em governadores que não concluiram o mandato: Siqueira renunciou, Marcelo Miranda foi cassado duas vezes, Mauro Carlesse renunciou para escapar de um empeacment e Wanderlei Barbosa encontra-se afastado pela justiça. Com isso, projetos iniciados ficam inacabados e políticas públicas são constantemente interrompidas, ampliando a sensação de paralisia.
O Tocantins precisa de uma liderança capaz de articular forças, dar previsibilidade ao processo político e resgatar a confiança da sociedade. Não se trata de reeditar figuras centralizadoras como no passado, mas de construir um ambiente institucional mais estável, no qual divergências sejam mediadas dentro das regras democráticas e não pela judicialização ou pela ruptura dos mandatos. Sem essa recomposição, o estado continuará a pagar um alto preço pela ausência de liderança e pelo predomínio de interesses fragmentados.
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